A Igreja somos nós

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Testemunho de Pedro Mateus, da Paróquia de Cova da Piedade

Numa altura que o mundo se virou do avesso e em que estamos a escrever páginas da história que com toda a certeza nenhum de nós queria estar a viver, fomos confrontados com o fecho das nossas igrejas. Como reagir a isto? O que fazer?

Logo no dia 14 de março, o nosso pároco emitiu um comunicado, explicando os próximos passos, no sentido de sabermos o que nos estaria vedado (cumprindo as normas instituídas pela Direção Geral de Saúde e pela Conferência Episcopal Portuguesa). Contudo, também deu uma palavra para nos tranquilizar e um guião para que cada um pudesse dar continuidade ao Tempo da Quaresma… longe estávamos de imaginar o tempo que iríamos ficar nesta situação.

Sempre foi nossa preocupação ir ao encontro das pessoas. Como poderíamos ajudar? Como poderíamos ir ao encontro das suas necessidades?

Nesse mesmo dia, uma senhora dizia “Então agora que mais precisamos das igrejas fecham as portas?”. Grande pergunta! A Igreja não fecha portas! Onde estiver um cristão está uma Igreja: este foi o nosso ponto de partida!

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Foi a altura de nos focarmos no essencial, de nos reinventar, de encontrar formas de chegar às pessoas, de cada um se concentrar na sua relação com Deus. Em muitas casas, foram criados espaços de oração.

A Paróquia da Cova da Piedade já possuía um canal de youtube com transmissão 24 horas por dia. Sentimos necessidade de ir mais além e, assim, investimos num novo equipamento que permitisse transmitir pelo Youtube e pelo Facebook, em simultâneo, melhorando a qualidade do som e da imagem da transmissão. Permitiu-nos chegar e servir mais cristãos.

Foi através destas transmissões que mantivemos o coração da paróquia a bater, deixando que as pessoas continuassem a participar na Eucaristia, na recitação do terço, na via-sacra, na Adoração do Santíssimo. Viver a Quaresma desta forma trouxe alguma normalidade, aconchego e esperança. Também pudemos chegar aos nossos idosos das duas residências séniores, cumprindo o distanciamento social exigido, para assim participarem na Eucaristia.

Tínhamos a consciência e a certeza que as nossas redes sociais iam desempenhar um papel fundamental, para estreitar a distância que este isolamento veio criar. Desde o principio, procurámos ser muito ativos, partilhando as informações da diocese, criando conteúdos próprios e respondendo a todas as questões colocadas.

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Dentro do que é permitido fazer, tivemos várias bênçãos por via digital. Um casal da nossa paróquia, em conjunto com a sua família, recebeu a bênção do seu 50º aniversário de Matrimónio. A Bênção dos Ramos também é muito importante para a Comunidade, por isso, desafiámos que fizessem um ramo para ser benzido online, no Domingo de Ramos.

O Domingo da Divina Misericórdia é o dia paroquial do doente. Pedimos à Comunidade para colocarem no facebook e no youtube, o nome das pessoas doentes para na Eucaristia se rezar por elas e receber a bênção online.

Pelo menos há 6 anos que no dia da Mãe temos a bênção das grávidas. É uma autêntica “caça” às grávidas e, este ano, tivemos uma bênção online nas eucaristias.  

São pequenas formas de levar alguma tranquilidade espiritual à Comunidade face ao que estamos a viver.

Mantivemos as intenções nas Eucaristias, pois sabemos o quanto é importante para as pessoas continuarem a rezar, pedir pelos que já partiram e dar Graças pelo 100º aniversário de uma nossa paroquiana.

Era necessário dar sinais da Quaresma. Enfeitámos a Igreja Matriz com Ramos e colocámos as lonas na Igreja de Fátima, deixando uma mensagem de esperança a todos os que as vissem. Temos a graça das nossas igrejas estarem junto à Estrada Nacional 10 onde passam, apesar do confinamento, muitos carros por dia.

Também tivemos preocupação de criar interatividade com a Comunidade. Nesse sentido, desafiámos à construção de uma cruz para ser colocada à porta de casa. Para registar este momento, pedimos para enviarem fotografias, divulgando no facebook da paróquia. Recebemos centenas de fotografias.

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Nas cerimónias do Tríduo Pascal , soubemos que participaram pessoas de todo o país, assim como dos vários cantos do mundo. Numa aldeia, na Covilhã, foi criado um Grupo de visualização para participar nas Celebrações, mas também da Austrália estiveram presentes neste momento tão importante para a Vida de um Cristão.

No Domingo de Páscoa era importante assinalar este dia de forma especial. Se a igreja estava de portas fechadas, era importante levar Cristo às portas das Casas da nossa Comunidade e cantar que Cristo Ressuscitou! Aleluia! No final da Eucaristia, o padre Zé, como pároco da nossa comunidade, pediu que a bênção de Cristo Ressuscitado descesse sobre a nossa comunidade e nos protegesse.

De seguida, e pela primeira vez, tivemos o Compasso Pascal. Cumprindo todas as normas da DGS, fomos pelas ruas da nossa comunidade levando Cristo Ressuscitado.

Não há palavras para descrever as emoções vividas: a baterem palmas, a chorarem, a benzerem-se… Uma das frases que o Padre Zé disse e que todos levámos para Casa foi “um momento que me emocionou, que me emocionei e que me emocionaram”. Um dos pontos altos do percurso foi a passagem pelas nossas residências séniores. Quando pensávamos que iríamos fazer uma homenagem, fomos nós homenageados e recebidos com um salva de palmas dos colaboradores que, emocionados, nos agradeciam a visita. Na verdade, somos nós que tanto temos que agradecer pelo seu trabalho de entrega. Todo o Compasso Pascal foi transmitido em direto pelo facebook e alcançámos mais de 20 000 pessoas.

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Também desafiámos os Grupos Paroquiais a encontrar respostas para as necessidades especificas de cada grupo, cada um à sua maneira:

  • A catequese, depois de analisar todas as hipóteses, procurou manter ligação catequista/catequizando, optando por criar um site onde todos os sábados são colocadas as sessões de catequese online, desde o 1º ao 10º catecismo. Tem sido um sucesso com muita adesão e visualizações.

  • A Cáritas Paroquial continua a sua missão de ajudar os mais carenciados. Numa primeira fase, em colaboração com a Câmara Municipal de Almada, mas também respondendo a vários pedidos que lhes chegam. Sabemos que será uma área fulcral na resposta às necessidades dos mais carenciados da nossa comunidade.

  • Os escuteiros fizeram as suas atividades recorrendo a plataformas de reunião online, tendo o nosso pároco estado presente numa delas.

  • Os grupos de Jovens também encontraram formas de continuar a reunir e com as suas atividades como rezar o terço e a Via Lucis.

Sabemos que são tempos conturbados, imprevisíveis, de grande Desafio. Mas também sabemos que são estes tempos que fazem com que muitas famílias encontrem formas de estar com Deus, para rezar o terço diariamente ou participar na Eucaristia em família. São estes gestos que nos fazem crescer na união, na fé e acreditar que Cristo está vivo!

Pedro Mateus
Paróquia de Cova da Piedade

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